Iara
Muitas vezes
confundida com a mãe-d’água, a Iara, Uiara ou Ipupiara é um dos seres
mitológicos mais populares da Amazônia. Seu poder de sedução é tão forte sobre
os homens quanto o do boto sobre as mulheres. Por isso, às vezes é chamada de
boto-fêmea. A Iara é descrita como uma mulher muito bonita e de canto
maravilhoso que aparece banhando-se nas águas dos rios, ou sobre as pedras nas
enseadas. Para quem viaja pelos rios da Amazônia, a Iara pode ser um perigo,
pois encanta o navegador e puxa os barcos para as pedras. Atônito, o pobre
homem só se dá conta da tragédia quando já é tarde demais para se desviar. Quem
vê a Iara nunca mais a esquece. A sabedoria cabocla diz que o caçador que no
meio da mata ouve um canto irresistível de mulher deve rezar muito e tentar
sair logo do local. Mas poucos seguem a orientação dos mais sábios. Ao ouvir a
Iara, não há homem que não a busque nas matas até a beira do rio onde a
mitológica mulher pode ser vislumbrada. Ao vê-la, os homens enlouquecem de
desejo e são capazes de segui-la para onde for. Há os que contam terem sido
levados para as profundezas, nos braços da Iara. Vêm de lá descrevendo o reino
das águas como sendo de infinita beleza e de riquezas intocadas de onde nada se
pode trazer. Quem se aventura a trazer algo de lembrança, é castigado com
doença que só se cura com os trabalhos de alguma benzedeira poderosa das redondezas.
Há entre os índios a lenda do Jaguarari, índio forte e guerreiro da tribo
Tuxaua que se apaixonou pela Iara. Na tribo não havia ninguém mais forte e de
bom coração do que Jaguarari. Todos o admiravam, tanto os homens, quanto as
mulheres. Até que um dia, quando Jaguarari saiu em sua igara para pescar
avistou uma bela morena nua a se banhar e cantar na margem do rio, na sombra de
um Tarumã. Jaguarari ficou paralisado e de pronto se apaixonou. Desde então,
saia para caçar ou pescar, mas sua única intenção era mesmo encontrar a Iara.
Voltava tarde da noite da pescaria sempre triste. Nem parecia mais o belo índio
de antes de visão. Sua mãe perguntava, o pai aconselhava, mas nada de Jaguarari
voltar a ser como era antes. Até que um dia, de tanto a mãe insistir em saber o
motivo de sua tristeza, Jaguarari confessou estar apaixonado pela visão que
tivera aos pés do Tarumã. Disse que à noite quando tentava dormir, a única
coisa que ouvia era o inebriante canto da Iara. Ao ouvir a revelação, a mãe
desesperou-se! Jogou-se aos pés do filho e pediu-lhe chorando que nunca mais
voltasse lá. Mas a promessa nunca pôde ser cumprida, pois Jaguarari já estava
enfeitiçado. Numa noite de luar, ela cantou tão forte que o belo índio
levantou-se e correu para a margem do rio. As águas então se abriram e desde
então Jaguarari desapareceu para sempre nos braços da Iara.
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